segunda-feira, 13 de maio de 2013

ANTONIO CÂNDIDO UM MESTRE DO CONHECIMENTO. O ONTEM, O HOJE E O AMANHÃ.

Eilzo Nogueira Matos (Foto)*
 



Uma alegria para mim, quando li a afirmação de Antonio Cândido, que os seus escritores preferidos eram Eça de Queiroz e Graciliano Ramos.  Alegria, por quê? Coincidia o seu gosto com o meu, inclusive, com a complementação de informações tiradas de sua prática literária e acadêmica. Questão de semelhança ideológica. Inaudita honra, ou coincidência. Ou as duas coisas. Afinal, com a vida quase inteira dedicada à leitura de livros, naturalmente formei o meu gosto, as minhas preferências. E aqueles autores citados estão entre outros escolhidos por mim.  Antonio Cândido é um erudito entre os mais reconhecidos da cultura acadêmica ocidental. Fácil de conhecê-lo e a sua obra, disponível nas melhores bibliotecas públicas do país. E com o advento da internet na ponta do dedo, com um clique você terá tudo que desejar sobre o assunto. Abaixo, transcrevo parágrafos tirados de uma entrevista prestada por ele a Joana Tavares, publicada no Brasil de Fato.  E no Le Monde Diplomatique, Boletim 275. Repito o que digo sempre: vale a pena ler para conhecer e identificar o relacionamento entre o ontem, o hoje e o amanhã. Leiam abaixo:
 
“ [ ... ]  Parti do seguinte princípio: quero aproveitar meu conhecimento sociológico para ver como isso poderia contribuir para conhecer o íntimo de uma obra literária. No começo eu era um pouco sectário, politizava um pouco demais minha atividade. Depois entrei em contato com um movimento literário norte-americano, a nova crítica, conhecido como new criticism ... Importante então é o seguinte: reconhecer que a obra é autônoma, mas que foi formada por coisas que vieram de fora dela, por influências da sociedade, da ideologia do tempo, do autor... Há certas obras em que não faz sentido pesquisar o vínculo social porque ela é pura estrutura verbal. Há outras em que o social é tão presente – como O Cortiço, de Aluísio Azevedo, – que é impossível analisar sem a carga social 
 
[ ... ] Marx diz na Ideologia Alemã: as necessidades humanas são cumulativas e irreversíveis. Quando você anda descalço, você anda descalço. Quando você descobre a sandália, não quer mais andar descalço. Quando descobre o sapato, não quer mais a sandália. Quando descobre a meia, quer sapato com meia e por aí não tem mais fim. E o capitalismo está baseado nisso. O que se pensa que é face humana do capitalismo é o que o socialismo arrancou dele com suor, lágrimas e sangue. Hoje é normal o operário trabalhar oito horas, ter férias… tudo é conquista do socialismo. O socialismo só não deu certo na Rússia. Virou capitalismo. A revolução russa serviu para formar o capitalismo. O socialismo deu certo onde não foi ao poder. O socialismo hoje está infiltrado em todo lugar.
 
[ ... ] O que é o socialismo? É o máximo de igualdade econômica. Por exemplo, sou um professor aposentado da Universidade de São Paulo e ganho muito bem, ganho provavelmente cinquenta, cem vezes mais que um trabalhador rural. Isso não pode. No dia em que, no Brasil, o trabalhador de enxada ganhar apenas dez ou quinze vezes menos que o banqueiro, está bom: é o socialismo.
 
[ ... ] Em Cuba, eu vi o socialismo mais próximo do socialismo. Cuba é uma coisa formidável, o mais próximo da justiça social. Não a Rússia, a China, o Camboja. No comunismo, tem muito fanatismo, enquanto o socialismo democrático é moderado, é humano. Podem dizer: a religião faz isso. Mas faz isso para o que são adeptos dela, o socialismo faz isso para todos. O socialismo funciona como esponja: hoje o capitalismo está embebido de socialismo.”
 
Muito mais para refletir e analisar, encontramos na entrevista do mestre Antonio Cândido. Então cheguei a Paulo Coelho, Bolsa Família, Mensalão...  -  Tags: capitalismo, crítica literária, literatura, literatura brasileira, política, pós-capitalismo, socialismo, utopias

* Escritor, ex-deputado, advogado

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